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Autocobrança e meu pior inimigo

Hoje aconteceu algo peculiar: consegui ir tomar café da manhã num café em frente de casa.

Por mais corriqueiro e simples que isso seja para alguns, para mim é como uma grande vitória depois de uma árdua competição.


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Foto do meu café da manhã :)


Trabalhando remotamente desde a pandemia, criei um hábito horrendo de acreditar que preciso estar sentada na frente do computador 100% do tempo, porque VAI QUE alguma coisa acontece? E se eu não responder na hora? E se me demitirem porque não respondi imediatamente? E se alguém ficar me mandando 400 mensagens enquanto fui ao banheiro e não respondi?


Sim, o ciclo vicioso do pensamento destrutivo. Meu fiel companheiro, e meu arqui-inimigo. Ou minha arqui-inimiga, já que sou eu mesma.


Com o passar desses últimos anos, comecei a criar um medo de notificação (desculpa amigos!), pensamentos destrutivos, medos irracionais e uma doentia fixação em estar disponível 24 horas para tudo e todos porque "vai que". Isso foi destruindo minha cabecinha (que já faltava uns parafusos) e fez com que a criação de uma rotina, ou uma tentativa qualquer de aproveitar meu dia, fosse impossível.


Isso porque eu simplesmente NÃO CONSEGUIA me deslocar nem para a porta do prédio para pegar comida sem ser atacada por uma maldita ansiedade. Então meu cérebro ficava tenso o dia inteiro e, no período noturno ou finais de semana, que eu deveria relaxar, eu tinha que fazer todas as outras responsabilidades que posterguei e, ao fim, estava ainda mais cansada - mentalmente e fisicamente.


Para que as coisas começassem a melhorar: dá-lhe terapia; e sessões infinitas de compartilhar meus medos racionais e irracionais:


"Se eu perder o emprego, quem vai cuidar do Sam? E se eu não tiver o que comer? E se eu não tiver como pagar um teto sob nossas cabeças? E se eu não conseguir nunca mais um emprego de nada na minha vida porque eu não sou boa em nada?"


E então, de pouquinho em pouquinho, estou me adaptando a viver além de trabalhar. Às vezes levanto e preparo um café ou um almoço mais caprichado; ou sento-me no sofá e fico lendo a biografia do Príncipe Harry (ou só Harry porque agora ele não é mais príncipe); ou saio para comprar algo que falta em casa ou para ir à lavanderia.


Hoje, como um grande triunfo, consegui sair para tomar meu café da manhã, porque ainda não deu tempo de ir no mercado depois de me mudar para a melhor casa que estive aqui na Cidade do México.

Ninguém morreu, e nem foi demitido. Na verdade, nada aconteceu. Absolutamente nada. E se acontecesse, tudo ia ficar bem também, porque sempre fica. Porque nada disso realmente faz sentido ou importa.


Ainda vai demorar para estar livre dessas amarras, para entender que minha alimentação, minha saúde (mental e física) são mais importantes que uma notificação. Que eu posso encontrar um emprego de alguma coisa e que Sam sempre terá um teto e comida. E eu também.


E que eu não devo continuar sendo minha pior inimiga, nem me cobrar tanto o tempo todo por absolutamente tudo.


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Marina Souza

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