Hiperestimulação mental, saúde e os tempos
- Marina Luizato
- 7 de set. de 2024
- 3 min de leitura
Hoje eu tive terapia, e fui determinada a tentar sair com um diagnóstico.
Faz meses que vejo vídeos no Tiktok sobre TDAH e transtorno disfórico pré-menstrual e, obviamente, eu deveria ter alguma, senão as duas coisas, para que meu nível de ansiedade, hiperfoco, depressão e tristeza fossem tão grandes e constantes durante tanto tempo.
Após um grande bate papo, chegamos à conclusão: meu cérebro está extremamente, excessivamente, abundantemente hiperestimulado. E tanto minha cabeça como meu corpo estão pedindo arrego, socorro, mandando sinais de fumaça para serem salvos desse caos que fui me enfiando no decorrer dos anos.
É muito estranho. Sempre que via as pessoas comentando sobre como o tempo de tela afeta a mente, como as futuras gerações não sabem socializar etc, eu apenas assentia, mas nunca botei muita fé. Sabia que haveria danos, mas nos outros. Mas o buraco sempre é mais embaixo quando acontece com você mesmo, não é mona?
Pois bem, o que acontece é o seguinte:
Após 4 anos (quase 5) trabalhando em home office;
Aproximadamente 2 anos de depressão levemente aguda;
Muito tempo dentro de casa;
Muito MUITO muito em todas as redes sociais possíveis;
meu cérebro simplesmente entrou em modo avião e disse "para mim, já chega".
Enquanto no México, eu consegui passar uns bons meses sem algumas redes sociais, mas me debruçava em outras para receber aquela dosagem de dopamina diária, então não adiantou de nada. Não obstante, quando voltei ao Brasil, fui acometida por uma culpa absurda de não ter acompanhado a vida dos meus amigos pelas redes sociais. Onde já se viu?! Eu precisava estar presente de alguma forma, e como a depressão não me permitia estar fisicamente lá.... Ai ai.
Obviamente, o nosso amigo FOMO também é uma constante. Estar constantemente online e acompanhando tudo e todos (próximos ou não, importantes ou não) mas não estando fisicamente lá foi destruindo meus poucos miolos. Eu precisava estar em todo o lugar ao mesmo tempo, ainda que isso envolvesse 4 mil km de distância! Ai ai.
Então que, para compensar toda a tristeza, eu caía na dopamina da rede ao lado, e ficava vendo todos os lugares do mundo que eu poderia estar - mas não estou; todas as coisas que eu poderia ter - mas não tenho; todas as coisas maravilhosas que eu seria capaz de fazer - mas não faço. E comecei a hiperfocar nas coisas que eu poderia ter ou fazer e, por algumas semanas, eu ficava plena: havia um motivo para viver e desfrutar meus dias! Mas ai o hype passava e todo o marasmo voltava, e eu precisava de um novo foco. Ai ai.
Além disso, duas consequências um pouquinho mais severas começaram a acontecer:
Comecei a ter um pouco de fobia social: sair de casa se tornou um pesadelo, interagir com pessoas então, que os sete deuses me defendam. Tudo se tornou um esforço mental e físico que me drenava absurdamente e precisei começar a me forçar a fazer as coisas para que eu me reacostumasse a viver em sociedade. Louco.
Algo um pouco mais chato é que comecei a ter uma super sensibilidade à estímulos sonoros e alguns visuais. Muita informação ou muito barulho me deixam atordoada a ponto de quase vomitar em lugares públicos. Ir a São Paulo, que era um dos lugares que eu mais amava, começou a - literalmente - me dar náuseas porque lá é tudo muito: muita gente, muita coisa acontecendo ao mesmo tempo, muito muito muito. Nas poucas vezes que me desloquei até lá nos últimos 2 anos, não foram raros os momentos de extrema ansiedade e quase desmaiar no metrô porque meu cérebro simplesmente entrava em pane. E isso é tão insuportável que tem dias que quando o Hector escuta música em casa eu não consigo suportar ficar no mesmo recinto porque me deixa fisicamente mal. Muito louco.
Com essas belíssimas conclusões, minha psicóloga sabiamente sugeriu: melhor diminuir o tempo de tela. E terei que assinar embaixo dessa. Já era algo que eu queria, mas meu corpo e mente literalmente estão jogando na minha cara que já era essa palhaçada.
Buscarei formas mais efetivas de estar presente na vida dos meus amigos distantes. Acredito muito que, se minha saúde mental voltar aos trilhos, consigo ser um ser humano decente para os que eu mais amo novamente. Então se eu já sei disso, falta só colocar em prática! E aí vamos nós :)

Foto de Ales Nesetril diretamente do Unsplash.
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