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Desconexo

Tem sido absolutamente difícil focar. Viver, em geral.


Tenho muitas questões, e fico acreditando que ao fazer uma faxina em casa, minha mente vai se colocar, automaticamente, no lugar. Mas não vai. As coisas não são assim, e eu preciso entender que não são.


Vai fazer quatro meses que perdi minha mãe, e a dor é muito maior do que eu imaginava. Conforme o tempo vai passando, não tem ficado mais fácil, mas mais difícil. As lembranças vem mais fortes, passar por lugares que passamos juntas me deixam extremamente sensível. A proximidade com o seu aniversário de 61 anos me devasta, ela não poder ver meu casamento, meus 30 anos, minhas tomadas de decisões loucas... tudo acaba comigo.


E me vejo como uma menina assustada, perdida, sem saber o que fazer ou para onde ir. Sem conseguir sair do lugar. Cheia de sonhos e vontades, mas que mal consegue focar no trabalho, em estudar, em viver. Eu mal lembro dessa semana. A única coisa que eu lembro é que a Preta Gil faleceu.


A Preta Gil, que minha mãe acompanhou tão de perto a luta contra o câncer, que torcia tão intensamente pela recuperação. Sempre falávamos dela, assim como falávamos da Glória Maria ou da Ana Maria Braga e suas respectivas lutas. E agora, minha mãe e Preta Gil estão descansando no mesmo lugar. E isso me desespera.


Me desespera, porque eu acho que meu tempo também está acabando e eu não sei o que fazer. Na verdade, eu sei, mas não tenho coragem de me mexer. Eu tenho total visibilidade de quem eu quero ser, mas eu tenho tanto medo de fazer acontecer. Não sei se é o medo de fracassar, de ser julgada. E mesmo se for: por que eu me importo? Ninguém está olhando para mim, ninguém se importa de verdade a ponto de impactar a minha vida, sabe?


Que raiva, que nervoso, que frustrante!


E como não consigo sair disso, meu cérebro está, aos poucos, desligando. Não durmo o suficiente, não como direito, não trabalho direito. Nada está sendo bem feito. Nada. Me sinto definhando e morrendo em vida, não sinto luz. Tenho poucos lampejos de alegria, que me fazem sentir algo, mas são tão rápidos.


Então estou tentando tirar fotos, para que eu me lembre que, um dia, tive motivos para sorrir.




 
 
 

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Marina Souza

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